dad’s notes
Esta página é um espaço dedicado ao meu pai, engenheiro de formação, mas apaixonado e profundo conhecedor de música (especialmente MPB). Quando peço, ele me manda resenhas certeiras, por vezes duras ou engraçadas, mas sempre objetivas e carregadas de opinião pessoal. Meu pai toca vários instrumentos, é um consumidor ávido (e “chato” – palavras dele), e aprecia música de uma maneira muito mais colorida que muita gente. Ao longo dos meus quase 10 anos trabalhando com música, já trocamos muito e já discordamos também. Ninguém é dono da verdade absoluta; música é o que cada um sente, o que cada um percebe. Meu pai acredita que “música tem que dar prazer,” e eu sei que ele leva isso muito a sério. Eu me divirto (e aprendo muito) vendo a maneira como ele se relaciona com a música. As “notas” abaixo são resenhas curtas, sem pretensão nenhuma de ser verdade sobre nada, apenas opiniões de um apreciador dialogando com sua filha.
Dom Salvador é uma página na música brasileira e mundial. Um dos criadores da fusão da bossa-nova com o jazz. Um ótimo instrumentista brasileiro que inteligentemente foi morar no EUA onde sempre houve muito mais chance, principalmente para música instrumental. Tudo dele é de alto nível, muito bem tocado e com muito swing, típico do samba-jazz.
Ouvi o disco da Buika que você sugeriu, e gostei. Ela tem uma forte herança da música flamenca, e quando segue esse instinto fica muito bom. Quando ela envereda para o mais pop não fica ruim, mas indiscutivelmente a parte boa dela está nas suas origens.
O disco En Mi Piel é muito bem tocado, com instrumentos claros fazendo frases bonitas nas horas certas. Músicas bonitas muito bem cantadas pela Buika. Tecnicamente bom. Só não entendi Stand By Me. O que ela quiz mostrar? O arranjo destruiu a música. Está irreconhecível. Uma porcaria. Nunca deveria estar nesse álbum tão bom. Aliás em lugar nenhum.
Reinterpretação de canções bonitas e simples que o arranjador quer “enriquecer”, dificilmente dão um bom resultado. Alterar demais uma música é perigoso e é só para os feras, que não é esse caso.
O disco é bom, tirando Stand By Me, fica melhor ainda.
Khruangbin & Leon Bridges
Ouvi a banda não só no Spotify (2 discos) como procurei ver outros trabalhos no Youtube. A banda mistura vários estilos, muitas vezes dentro de uma mesma música.
O disco Texas Sun lembra bastante o que eu considero lounge, que a meu ver é simples, sem grandes variações, instrumental, mas nenhum instrumento sobressai, meio sem gosto. Aquele tipo de música que não atrai muito a sua atenção. Achei isso do disco Com Todo El Mondoe e também do The Universe Smiles Upon You de 2015.
Vi um show da banda ao vivo no Youtube e achei bem diferente. Bem dançante com muitas variedades de estilo dentro da mesma música, porém com muito mais pegada com a guitarra se destacando muito. A platéia ia junto. Interessante o show.
As músicas (está mais pra tema do que para música) são muito simples. O baixo é quase um robô sem variar quase nada durante toda a música, o guitarrista é bom. Entende bastante do hardware, conseguindo tirar muitos efeitos da parafernália eletrônica, apesar das frases melódicas serem fracas. Funciona bem, principalmente ao vivo.
É isso. Achei pobrezinho no estúdio, mas iria ver um show deles. Deve ser animado. Eles misturam muita coisa, parece sandwich x-tudo, mas no fundo diverte.
Excelente texto. Tenta explicar o que é Pop, como é criado, como é consumido, como é interpretado.
Na minha opinião, o que é pop hoje no Brasil, é de um nível muito baixo. Apesar de termos no repertório brasileiro as melhores músicas do mundo, e ainda termos compositores e intérpretes da “velha guarda” ainda atuantes, acho normal os mais jovens procurarem novidades, e aí vem a tragédia com músicas horrorosas dominando o que é pop, por falta quase que total de talentos. A novidade prevalece em relação à qualidade.